Os Sentimentos Humanos certo dia
reuniram-se para brincar.
Depois que o Tédio bocejou três vezes por que a
Indecisão não chegava a conclusão nenhuma
e a Desconfiança estava tomando conta, a
Loucura propôs que brincassem de
esconde-esconde.
A Curiosidade quis saber todos os detalhes do jogo,
e a Intriga começou a cochichar com os outros
que certamente alguém ali iria trapacear.
O Entusiasmo saltou de contentamento e
convenceu a Dúvida e a Apatia,
ainda sentadas num canto,
a entrarem no jogo.
A Verdade achou que isso de esconder não estava
com nada, a Arrogância fez cara de desdem pois
a idéia não tinha sido dela, e o Medo
preferiu não se arriscar:
"Ah, gente, vamos deixar tudo como está",
e como sempre perdeu a oportunidade
de ser feliz.
A primeira a se esconder foi a Preguiça,
deixando-se cair no chão atrás
de uma pedra, ali mesmo
onde estava.
O Otimismo escondeu-se no arco-íris, e a
Inveja se ocultou junto com a Hipocrisia,
que sorrindo fingidamente atrás
de uma árvore estava odiando
tudo aquilo.
A Generosidade quase não conseguia se esconder
porque era grande e ainda queria abrigar
meio mundo, a Culpa ficou paralisada
pois já estava mais do que escondida
em si mesma.
A Sensualidade se estendeu ao sol num lugar
bonito e secretopara saborear o que a vida
lhe oferecia, porque não era nem boba
nem fingida; o Egoísmo achou um
lugar perfeito onde não cabia
ninguém mais.
A Mentira disse para a Inocência que ia se
esconder no fundo do oceano, onde a
inocente acabou afogada, a Paixão
meteu-se na cratera de um vulcão
ativo, e o Esquecimento já nem sabia
o que estavam fazendo ali.
Depois de contar até 99 a Loucura
começou a procurar.
Achou um, achou outro, mas ao remexer num
arbusto espesso ouviu um gemido: era o Amor,
com os olhos furados pelos espinhos.
A Loucura o tomou pelo braço e seguiu com ele,
espalhando a beleza pelo mundo, desde então
o Amor é cego e a Loucura o acompanha.
Juntos fazem a vida valer a pena - mas isso não
é coisa para os medrosos nem os apáticos, que
perdem a felicidade no matagal dos
preconceitos, onde rosnam os
deuses melancólicos da
acomodação.
Beijos, pessoas do bem!